segunda-feira, setembro 18, 2017

Colecionador é um povo doido?

No século 17 houve uma mania de tulipas na Holanda. Por alguma razão, as pessoas passaram a valorizar cada vez mais as flores, a ponto de uma tulipa valer mais do que uma casa. Ninguém sabia explicar porque elas valiam tanto.Isso levou a uma bolha especulativa de, ao estourar, fez várias pessoas ficarem miseráveis. 
Para mim, quadrinhos sempre tiveram valor sentimental. As revistas que mais valorizo são aquelas que foram importantes para mim, ou que tiveram histórias muito boas, que me marcaram profundamente. Para mim, por exemplo, as edições mais valiosas de Superaventuras Marvel são a 5 (a primeira que li) e a 24 (primeira que comprei e a que iniciou a magnífica saga da Fênix Negra). 
Mas, para um colecionador, a número parece ser a mais importante de uma série, independente da qualidade ou de qualquer fator sentimental. Parece ser apenas a febre das tulipas dos quadrinhos: o valor é puramente aleatório. 
Recentemente tive um exemplo disso em um sebo ao encontrar um superalmanaque de Kripta por um valor alto. Perguntei à vendendora o porque do valor. Esperava uma resposta como: "Essa foi uma das melhores revistas de terror já publicadas no Brasil e este número especial selecionou algumas das melhores histórias" ou algo assim. Mas a resposta foi simplesmente: essa é a número 1. Detalhe: só houve dois surperalmanaques de Kripta, ambos igualmente bons, mas, pela lógica do mercado, o número 1 vale uma fortuna e o 2 vale pouco. 
Há várias revistas que foram melhorando com o tempo. A versão dos Trapalhões da Bloch, por exemplo, só se tornou o clássico dos quadrinhos que foi depois que a equipe criativa ganhou liberdade para fazer algo dentro da linguagem de quadrinhos. Os primeiros números eram simples adaptações dos roteiros da TV. Heróis em ação foi outra que se tornou um clássico com o tempo. A própria Superaventuras Marvel, provavelmente o melhor mix Marvel publicado pela Abril, só teve sua melhor fase, só construi sua identidade, depoi do número 1, em especial quando começou a publicar, simultaneamente, o Demolidor de Frank Miller, os X-men e Chris Claremont e John Byrne e outros clássicos, como a melhor fase do Pantera Negra. Mas para um colecionador, o mais valioso é o número 1. Vai entender.

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