domingo, abril 30, 2017

Grafipar, a editora que saiu do eixo


No final da década de 1970, Curitiba se tornou a sede da principal editora de quadrinhos nacionais. A produção era tão grande que se formou até mesmo uma vila de quadrinistas. No livro Grafipar, a editora que saiu do eixo, eu conto em detalhes essa história. O livro inclui também algumas HQs publicadas na época e análise das mesmas.
Pedidos: profivancarlo@gmail.com.

sábado, abril 29, 2017

Os judeus mataram Jesus?

Um dos argumentos do anti-semitismo é de que os judeus foram responsáveis pela morte de Jesus e, em decorrência disso, devem sofrer. No Novo testamento é dito que Pilatos trouxe Jesus para  a frente da multidão de judeus, colocando-o ao lado de um rebelde violento, Barrabás, e perguntou quem deveria ser solto. A multidão gritou Barrabás. Pilatos ainda tenta argumentar em vários momentos, em favor de Jesus, mas seu destino é selado pelos judeus. Ocorre que esse é o episódio mais contestado do Novo Testamento. Em nenhum outro caso registrado um procurador romano indagou ao povo sobre o que deveria fazer.
Os historiadores acreditam que os evangelistas procuraram poupar Pilatos como forma de conquistar a confiança dos romanos. O objetivo da seita, na época, era agradar aos romanos, como forma de difundir religião cristã.
Como era necessário culpar alguém, a culpa recaiu sobre os judeus.

A referência a Barrabás também tem raízes históricas. Ao mostrar a escolha do povo por um rebelde, o evangelista Marcos estaria criticando a opção do povo pela luta armada em vez da salvação pacífica representada por Jesus. Segundo Marcos, ao escolher Barrabás, a multidão de judeus teria dito: “Que o Seu sangue caia sobre nós e nossos filhos”. A frase, sem muito sentido para uma multidão que havia acabado de fazer uma escolha, é na verdade uma referência à revolta judaica contra os romanos, na qual morreram um milhão de judeus. Para os cristãos, que não haviam se envolvido no conflito, era como se Deus estivesse penalizando os israelitas. 

O uivo da górgona - parte 47

47
Zu acordou atônita. Tinha tido um sonho estranho e aterrador. Se lhe perguntassem, não conseguiria se lembrar de seu conteúdo. Mas sabia que havia algo errado. Algo terrível estava acontecendo. Ao abrir os olhos, sentiu-se desorientada, sem saber onde estava e foi só grande esforço que se lembrou da mansão, de Roberto, de tudo que ocorrera até ali.
Olhou para o lado, preocupada. A galinha tinha se empoleirado em cima do criado mudo, mas agora não estava mais ali.
Zu levantou-se, esfregando os olhos. Ainda estava com sono, mas não conseguiria voltar a dormir.
Ao sair no corredor, ouviu apenas o silêncio. Nos outros quartos, os outros dormiam tranquilamente. Apenas do dono da casa parecia não estar dormindo. Apenas Roberto e Sofia.
A menina, pensou, a menina!
A primeira coisa que Zu percebeu ao descer, foi o som da televisão ligada.
Mas a sala estava vazia. Ela ficou lá, parada, indecisa.
Quando deu dois passos na direção ao banheiro social, pareceu vislumbrar algo, uma mancha negra na periferia de seu olho. Ao firmar a vista, percebeu do que se tratava: era a galinha, Pimpinela, entrando por uma porta.
Era exatamente a porta que Roberto ordenara que ninguém entrasse.

Resoluta, ela desafiou a ordem. E entrou. 

Ken Parker


Em 1974 o gênero faroeste já havia sido tão explorado que parecia praticamente impossível surgir alguma abordagem diferenciada. Foi quando surgiu, na Itália, Ken Parker, criação do roteirista Giancarlo Berardi e do desenhista Ivo Milazzo.
Uma primeira diferença estava no traço de Milazzo, que destoava do desenho realista que se usava até então no gênero. Seu estilo era simples, estilizado, mas altamente dinâmico e expressivo. O fato do personagem ser baseado no ator Robert Redford também era uma novidade na época (posteriormente, outros personagens dos fumetti emprestaram rostos de atores e atrizes famosos: Dylan Dog era Rupert Everett e a criminóloga Júlia era Audrey Hepburn.
Mas o grande diferencial de Ken Parker estava mesmo nos roteiros. Ken Parker é o mais humano dos cowboys. Berardi inovou logo nos primeiros números fazendo com que o herói perdesse a memória e fosse morar com os índios, sendo chamado de Chemako (aquele que não se lembra).
Durante décadas os índios foram retratados nos quadrinhos como animais ferozes e bárbaros. Algumas histórias em quadrinhos, como Tex e Blueberry já haviam começado a mostrar uma visão mais positiva dos índios, mas seria apenas com Ken Parker que os nativos norte-americanos seriam retratados de forma realista e como o que de fato eram: vítimas dos massacres dos homens brancos que invadiam suas terras.
O episódio demonstrou bem alguns dos principais méritos da série: o de mostrar o outro lado do velho Oeste. Ken Parker convive não só com índios, mas com baleeiros e esquimós.
Os episódios Terras Brancas e a Nação dos Homens, em que o personagem convive com os esquimós, é praticamente uma aula de roteiro de como o roteirista deve pesquisar sobre o ambiente em que se passa a história para escrevê-la. Os costumes e forma de vida dos esquimós são retratados com um realismo impressionante para a época, elevando a série muito além do que era feito com o gênero faroeste.
Não bastassem essas inovações, Ken Parker ainda brincava com outros gêneros, experimentando outras possibilidades. No episódio 4, Homicídio em Washington, Berardi introduziu uma trama policial, o que ocorreria em vários outros volumes. Na história Boston, por exemplo, Ken Parker contracena com grandes detetives literários, como Sherlock Holmes e Poirot e acaba sendo o responsável pela solução de um crime em uma locomotiva.
Em outro episódio, Ken Parker delira e se vê como um cavaleiro andante.
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Outro grande diferencial de Ken Parker será a construção detalhada dos personagens secundários, que muitas vezes parecem roubar a cena, tornando-se a grande atração do gibi. É o caso da menina Pat O´Shane, uma personagem tão carismática que, embora tenha aparecido em poucos números, é lembrada com carinho por todos os fãs da série.  
A única limitação do gibi parecia ser mesmo a imaginação do roteirista. O público de faroeste, normalmente muito conservador, reagiu bem a essas inovações e a revista Ken Parker se estabeleceu no gosto do público, ganhando fãs fieis especialmente entre as pessoas com maior nível intelectual. A revista durou dezenas de números e teve até mesmo álbuns de luxo.

Em uma das últimas histórias, Berardi e Millazzo voltaram a inovar apelando para a metalinguagem. Na história A terra dos heróis, desenhista e roteirista contracenam com o personagem numa história que inclui uma verdadeira multidão de convidados especiais: de Pinóquio ao Zorro, passando pelo ator Orson Welles. 

Família Titã


No inicio da década de 1990, o desenhista Joe Bennett ainda não tinha iniciado sua vasta produção para o mercado norte-americano de super-heróis, no qual atuaria com personagens como Batman, Homem-Aranha, Thor e tantos outros. Ele ainda assinava seus trabalhos como Bené Nascimento.
Na época, um segmento que andava em alta era o de quadrinhos eróticos, e Bené tinha total liberdade de criação para realizar seus trabalhos para a Editora Sampa. Foi nessa fase que ele, em parceria com o escritor Gian Danton, produziu diversas HQs focadas no horror e na fantasia.
A Insólita Família Titã foi publicada nessa época em diversas revistas eróticas (numa tiragem total de mais de 150 mil exemplares), e ganhou muitos fãs, além de ter conquistado novos adeptos a partir do ano 2000, quando foi difundida na Internet.
Em 2014 a editora Opera Graphica relançou a história no formato de álbum de luxo, com textos sobre a importância da história e biografia dos autores, além de mais uma HQ, Powers, tornando-se um item de colecionador para os fãs dos super-heróis brasileiros.
Valor: 25 reais, frete incluso. 
Pedidos: profivancarlo@gmail.com.  

Xuxulu não pode ir


sexta-feira, abril 28, 2017

Quem era o pianista judeu que foi salvo por um nazista?

Foi Wladyslaw Szpilman, um dos melhores músicos poloneses. Quando a Polônia foi invadida pelos nazistas, ele ficou preso no gueto de Varsóvia, mas antes de ser enviado para os campos de concentração, foi salvo por admiradores.
A história deu origem ao filme O Pianista, de Roman Polanki, vencedor da Palma de Ouro no festival de Cannes. Polanski, também ele judeu polonês, colocou muito de sua vida no filme. "Há momentos específicos no filme tirados de minha vida. Como o pai que recebe um tapa no meio da rua, a visão da construção do muro do gueto pela janela do apartamento da família ou a mulher que recebe um tiro porque fez uma pergunta.", afirma o diretor.
O filme é dividido em duas partes. Na primeira, Polanki retrata o cotidiano dos judeus no gueto de Varsóvia, com espancamentos e mortes mostrados de forma explícita.
Na segunda parte, Szpilman é protegido de fãs, que o escondem em um apartamento, até que esse é bombardeado por um panzer e o pianista passa a viver nos escombros da cidade, sempre em busca de comida.
O filme mostra a perseguição aos judeus, que inicia com a cassação de direitos civis e humilhações (os judeus não podiam, por exemplo, entrar em praças ou andar nas calçadas), até a ida para os campos de extermínio, passando pela revolta do beco de Varsóvia.
Mas o momento mais visceral da película é quando o pianista, procurando comida, encontra um oficial nazista e toca para ele. Nesse momento, surge algo em comum entre esses homens tão diferentes e Szpilman passa a ser protegido do alemão, escondendo-se no quartel general nazista.

O Pianista é um dos melhores filmes sobre o período não só por sua veracidade histórica, mas pela alta estética. Um elemento importante é a ausência de trilha sonora, que só aparece nos momentos em que o protagonista está tocando, ou imaginando que toca, como se a música o libertasse. 

Comportamento Geral - Gonzaguinha

O uivo da górgona - parte 46


46
Sofia recuou, horrorizada.
Era uma mulher, uma de verdade. Sofia olhou, angustiada, para as facas na parede e compreendeu e a compressão fez com que um calafrio arrepiasse seu corpo.
Era uma mulher de verdade e seus braços e pernas tinham sido cortados e a pele costurada, provavelmente para que ela não morresse sangrando. E não tinha sido só isso que havia sido costurado. Quem fizera isso costurara também os lábios da mulher, de modo que ela não conseguia falar.
Pelos movimentos do rosto, Sofia imaginou que ela estivesse murmurando algo, numa tentativa vã de pedir ajuda. Mas não era necessário ouvi-la. Bastava contemplar o desespero em seu olhar. Era um pedido desesperado de ajuda.
O dono da casa fez isso com ela, compreendeu Sofia. O dono da casa capturou essa mulher e cortou seus braços e suas pernas, e costurou para que ela sobrevivesse e pudesse passar mais tempo sendo torturada.
Talvez ele pretendesse fazer isso com todos eles, pensou Sofia e a compreensão foi tão insuportável que pareceu doer em seu peito.
Preciso avisar os adultos, preciso trazê-los aqui, pensou ela.

Mas quando se virou o dono da casa estava lá, olhando para ela, com uma faca na mão. 

quinta-feira, abril 27, 2017

O que era a onda?

A Onda foi uma experiência realizada, em 1967, por um professor de história em uma escola Palo Alto, nos EUA. Para demonstrar aos alunos o clima que deu origem ao nazismo, o professor instituiu um movimento chamado a Onda que tinha as mesma características do nazismo: uma saudação, um slogan “Poder, disciplina, superioridade”, um símbolo gráfico (uma onda) e uma estrita disciplina.
O professor Ross incentiva os alunos a adotarem a disciplina que caracterizava os nazistas.
O resultado dessa arriscada experiência pedagógica foi um movimento que saiu dos limites da sala de aula e do controle do professor. No final, toda escola acaba envolvida com o fanatismo da Onda. Aqueles que não aderem ao movimento são agredidos e segregados.
Um casal de estudantes percebe os rumos que o movimento está tomando e alerta o professor, que convoca uma reunião dos integrantes da Onda. Nela, ele mostra a figura de Hitler e diz que aquele é o líder que eles seguiriam se continuassem naquele caminho e alerta para o fato de que eles perderam o censo crítico ao aderir ao movimento: “Vocês trocaram sua liberdade pelo luxo de se sentirem superiores. Todos vocês teriam sido bons nazi-fascistas. Certamente iriam vestir uma farda, virar a cabeça e permitir que seus amigos e vizinhos fossem perseguidos e destruídos. O fascismo não é uma coisa que outras pessoas fizeram. Ele está aqui mesmo em todos nós. Vocês perguntam: como que o povo alemão pode ficar impassível enquanto milhares de inocentes seres humanos eram assassinados? Como alegar que não estavam envolvidos. O que faz um povo renegar sua própria história? Pois é assim que a história se repete. Vocês todos vão querer negar o que se passou em “A  onda’. Nossa experiência foi um sucesso. Terão ao menos aprendido que somos responsáveis pelos nossos atos. Vocês devem se interrogar: o que fazer em vez de seguir cegamente um líder. E que pelo resto de suas vidas nunca permitirão que a vontade de um grupo usurpe seus direitos individuais. Como é difícil ter que suportar que tudo isso não passou de uma grande vontade e de um sonho”, diz ele..
A experiência foi relatada em livro e depois transformada em filme de 45 minutos, com formato reduzido para ser adotado em escolas com o objetivo de discutir os riscos de sistemas totalitários.
O interessante da experiência da Onda é que ela demonstrou que o fanatismo do nazismo pode se reproduzir em qualquer lugar, mesmo em um país democrático, desde unidos os elementos necessários (um líder carismático, psicologia de massa, slogas, saudações etc).

A grande lição para quem assiste é que o fantasma do nazismo está muito mais próximo de nós do que imaginamos.

Bolsa-empresário

A razão pela qual falta dinheiro para a aposentadoria.

Dylan Dog


Em 1986, a Itália viu surgir um personagem de quadrinhos que viraria uma verdadeira febre, chegando a vender um milhão de exemplares mensais e sendo republicado duas vezes, ao mesmo tempo que a edição normal. Era Dylan Dog, o detetive do pesadelo.
Dylan foi criação de Tiziano Sclavi, um jornalista e escritor italiano, fã de terror. Sclavi dotou sua série de uma bem elaborada mitologia que conquistou os fãs. Assim,  Dylan é um ex-agente da Scotland Yard, ex-alcoólatra, que vive de solucionar casos misteriosos envolvendo vampiros, lobisomens, múmias e mais todo tipo de monstros e pesadelos. Ele usa sempre calça jeans, camisa vermelha e blazer preto, mora em uma casa que tem uma campainha que grita, toca clarinete quando precisa refletir sobre algum caso e faz muito sucesso com as mulheres.
Dylan tem como assistente o piadista Grouxo, baseado no comediante Grouxo Marx, que dá o alívio cômico para a série. Mesmo nos piores momentos, Grouxo tem uma piada na manga. Algumas delas:
“Ontem salvei uma mulher que estava para ser violentada. Bastou eu me controlar.”
“As mulheres são loucas por mim! Ontem à noite uma garota ficou batendo na minha porta durante horas, mas eu não a deixei sair”.
“Sei ficar em silêncio em quinze idiomas”.
“Este papagaio é estraordinário, senhora! Bota ovos quadrados. E sabe falar? Bem, sabe dizer ai”.
Quando o desenhista perguntou a Sclavi como deveriam ser as feições do personagem, este respondeu: “Como Rupert Everett”. Fazer personagens como feições de gente famosa não é novidade nos comics italianos. Ken Parker, por exemplo, é a cara de Robert Redford. Esse expediente parece aumentar ainda mais a aura pop dos personagens.
Sclavi juntou tudo num mesmo caldeirão: referências pop, romantismo, humor, terror e até surrealismo. Sim, alguns das melhores histórias do personagem são aquelas em que se perde a referência do real e parece que o leitor entrou num mundo onírico em que qualquer coisa pode acontecer.
O sucesso extraordinário de detetive do pesadelo fez com que a editora Sérgio Bonelli, que publica o personagem, criasse o Dylan Dog Horror Festival, uma exibição de filmes à qual comparecem milhares de pessoas vestidas de monstros ou como personagens da série. Além do festival, Dylan serviu de inspiração para agendas, adesivos, embalagens, jogos, vide-games, campanhas contra as drogas, simpósios e teses acadêmicas. Nas palavras do jornalista Sidney Gusman, Sclavi conseguiu criar uma história em quadrinhos de autor que, ao mesmo tempo, é imensamente popular.

No Brasil, Dylan Dog foi publicado primeiramente pela Record, no início dos anos 1990. Mas o personagem que sobrevivera a tantos monstros não conseguiu resistir à crise e acabou sendo cancelado depois de poucos números. Em 2001, a editora Conrad resolveu publicar o fumetti numa série de 6 números com um formato mais alongado, papel de melhor qualidade e capas de Mike Mignola. As vendas não foram as esperadas, e o personagem acabou passando para a Mythos, que já publicava diversos outros quadrinhos da Bonelli, como Tex, Zagor, Ken Parker e Júlia, durando até o número 40.  

O uivo da górgona - parte 45


45
Sofia tentava acostumar-se com a escuridão. A sala formava um L com o corredor e a luz que vinha dele era incapaz de iluminar o que havia do outro lado. Com o tempo, a menina conseguiu distinguir uma espécie de mesa. Não, não era uma mesa, era algo diferente. Parecia de metal, mas era alta e estreito demais para ser uma mesa. A menina teria pensado que se tratava de uma cama, mas nem mesmo isso se encaixava no que seus olhos conseguiam vislumbrar.
Sofia sentiu o coração palpitar e suas mãos agora estavam suando.
Havia algo em cima da mesa estranha, como um saco de dormir, ou um amontoado de roupas. O que poderia ser?
Ela olhou à volta, em busca de um interruptor e achou-o na quina do fim do corredor.
Então deu um passo cauteloso na direção dele, seus tênis arrastando contra o chão.

A luz acendeu e a menina custou a discernir o que via. Talvez porque seus olhos estivessem acostumados à penumbra. Parecia um manequim humano, como aqueles que ela vira em várias lojas, mas faltavam os braços e as pernas, sobrando apenas o tronco. Sofia imaginou que fosse o manequim de uma mulher por causa dos cabelos negros com corte feminino. O rosto estava virado para a parede.
A menina se aproximou e seus olhos, agora acostumados à claridade, repararam em algo estranho. De onde deveriam sair pernas e braços saiam linhas negras, como se alguém tivesse costurado a pele.
Agora mais perto, a menina reparou que o manequim não tinha textura de plástico, mas de pele. Pele humana. Que tipo de pessoa faria um manequim tão realista? Por que razão? Ou talvez... ou talvez fosse realmente uma mulher?

Foi nesse momento que a mulher se virou e olhou para ela. 

quarta-feira, abril 26, 2017

O nazismo existiu no Brasil?

Existiu. O partido nazista brasileiro chegou a ter 2.900 integrantes. Era o maior fora da Alemanha. Isso se deve à grande imigração alemã, especialmente na região sul do Brasil. Alguns de seus líderes, como Otto Braun, chegaram a ter treinamento em Munique para se tornarem agentes políticos. Havia a Juventude Hitlerista, a Associação dos Professores Nazistas e a Associação das Mulheres Nazistas. Na escola alemã da Vila Mariana, em São Paulo, os alunos saudavam os professores com a saudação “Heil Hitler!”. Muitos dos professores vinham da Alemanha especialmente para fazer propaganda do nazismo.
A defesa do nazismo era tão generalizada que um pai chegou a escrever a Goebbels, denunciando o diretor do colégio Visconde de Porto Seguro, por não ensinar o nazismo.
Os nazistas brasileiros não se interessavam pela política local e não aceitava em seus quadros descendentes de alemães nascidos no Brasil. Mas, de 1936 a 1939 os alemães radicaram no Brasil receberam a incumbência de fazer a opinião pública brasileira apoiar Hitler.
Para isso eles contavam com 15 emissoras de rádio, que transmitiam notícias escritas em Berlin. Além disso, havia panfletos, livros e o jornal Deustscher Morgen (Aurora Alemã).
Em 1938, Getúlio Vargas proibiu diversos partidos, entre eles o nazista, mas ele continuou operando normalmente. Em abril de 1952 uma passeata no centro de Florianópolis reuniu duas mil pessoas vestidas com uniformes nazis.

A perseguição aos nazistas só aconteceu de fato com a entrada do Brasil na Guerra em favor dos Aliados. Nessa época muitos alemães foram presos em campos de concentração acusados de espionagem. Há relatos de vexames públicos, como obrigar alemães a beberem óleo de rícino com óleo diesel e a defecarem em praça pública.   

Chamando Xuxulu


1602


O uivo da górgona - parte 44


44
Quando terminaram, voltaram para seus quartos. Estavam exaustos depois da longa noite insone. Apenas Sofia ficou na sala, assistindo a um desenho na grande TV de plasma. Embora não pudesse ouvir o som, em sua imaginação infantil conseguia entender a história.
Mas, com o tempo, foi perdendo o interesse. Levantou-se e olhou à volta. Nenhum movimento. Nem mesmo a galinha andava por ali.
Não estava com sono, mas o desenho não lhe interessava mais. O que restava era andar pela casa, desbravando-a. Sentia-se entre curiosa e tensa. Talvez porque sabia que estava fazendo uma travessura. Os adultos esperavam que ela ficasse ali, na sala, mas aquele espaço parecia agora pequeno e a menina queria saber o que havia além dele.
Pouco antes de entrar na cozinha deparou-se com uma porta. Vira um dos adultos tentando entrar nela assim que chegaram e o dono da casa o impedira.
Sofia forçou a fechadura e descobriu que não estava trancada.
                A porta abriu lentamente e a luz da cozinha se esparramou como um leque pela superfície negra do cômodo. Sofia deu um passo para frente, indecisa. Fez isso e levou a mão direita na direção da parede, na busca de um interruptor. Seus dedos foram tateando lenta e cuidadosamente, até se depararem com uma saliência de plástico no reboco.
Uma luz se acendeu iluminando o que parecia um corredor curto. Lá no fim, o corredor parecia se abrir num cômodo maior. Havia coisas penduradas pela parede, mas de onde estava, a menina não conseguia identificar o que eram. Ela olhou para trás, esperando ver algum adulto que a orientasse. Mas não havia ninguém. Era ela, sozinha e uma dúvida terrível: entrava ou não entrava?
Por fim, deu mais um passo e olhou à volta. Apenas a parede, dos dois lados.
Sofia deu mais um passo. E outro. E outro. Enfim, estancou, intrigada e maravilhada com que seus olhos vislumbravam. A parede era coberta de objetos pendurados. Havia um avental de plástico branco. Havia diversas manchas nele e a menina pensou inicialmente que era um avental de pintura, como aqueles que ela usava na escola, mas ao se aproximar, sentiu um forte odor acre. Além disso, as manchas variavam do vermelho ao roxo. Não havia nenhum amarelo, azul ou verde entre as várias e pequenas manchas. Em uma sacola transparente viu pequenos frascos igualmente transparentes, repletos de linhas e agulhas de costuras das mais diversas cores e grossuras.
Mas o que mais a maravilhou foram as coisas que brilhavam ao longe. Havia ali uma profusão incrível de facas das mais variadas cores e tamanhos. Algumas eram pequenas, com a lâmina fina e pequena, outras eram grandes e pesadas como cutelos.
Todas estavam devidamente limpas e organizadas por tamanho e tipo. Quem quer que as guardara era meticuloso e organizado.
A limpeza das facas era algo quase irreal naquele ambiente e contrastava fortemente com a sujeira abstrata do avental.

Sofia ficou ali, admirando-as, até perceber que havia algo do outro lado da sala. 

terça-feira, abril 25, 2017

O que eram os protocolos dos sábios de Sião?

Os protocolos dos sábios de sião é um texto falso, redigido na época da Rússia Czarista, que descrevia um projeto de dominação mundial por parte dos judeus. Segundo o livro, o texto seria a ata de uma reunião ocorrida a portas fechadas na Basiléia no ano de 1807, na qual vários maçons, judeus, bolcheviques e rosacruzes teriam se reunido para elaborar um plano de destruição do cristianismo.
Entre os planos estavam explosões em cidades européias e inocular tifo em chefes de estado. Quando o mundo estivesse totalmente dominado, esses grupos iriam estuprar as mulheres cristãs e escravizar seus maridos.
Desde sua primeira publicação, várias investigações foram feitas e todas demonstraram que se tratava de uma fraude. Um artigo no The Time of London, de 16 a 18 de agosto de 1921 demonstrou que o texto era plágio de vários outros textos, entre eles sátiras políticas, como O diálogo no inferno entre Maquiavel e Montesquieu, de Maurice Joly. A inovação ficou por conta do caráter anti-semita do texto.
O quadrinista Will Eisner realizou uma extensa pesquisa sobre o assunto, publicada na graphic novel O complô.  Na HQ, Eisner mostra que a origem do texto se deve a uma intriga política na Rússia.

Os protocolos foram o principal argumento usado pelos nazistas para justificar o extermínio de judeus. 

Grafipar, a editora que saiu do eixo


No final da década de 1970, Curitiba se tornou a sede da principal editora de quadrinhos nacionais. A produção era tão grande que se formou até mesmo uma vila de quadrinistas. No livro Grafipar, a editora que saiu do eixo, eu conto em detalhes essa história. O livro inclui também algumas HQs publicadas na época e análise das mesmas.
Pedidos: profivancarlo@gmail.com.

Horror em Dunwich


segunda-feira, abril 24, 2017

Hitler gostava de futebol?

Aparentemente não. Ele não costumava ir aos estádios assistir aos jogos, mas mesmo assim tentou usar o jogo como instrumento de propaganda política. A crise mundial de 1929 quebrara a Federação Alemã de Futebol (DFB) e o ditador se ofereceu para ajudar financeiramente à instituição. A idéia era divulgar a superioridade da raça alemã através de vitórias no futebol.
Um dos que mais colaboraram nesse processo Joseph Herberger. Apesar de conhecer as atrocidade cometidas pelo regime nazista, eles sempre defendeu o regime, pois queria tornar-se técnico da seleção, o que conseguiu em 1937. Herberger continuou no cargo após a II Guerra e chegou a ganhar a copa do mundo de 1964.
Outro exemplo de como o regime nazista tinha interesse no futebol foi o caso do atacante austríaco de origem judia Matthias Sindelar. Ele era tão magro que os austríacos o conheciam como Der Papiereme (Homem papel), mas jogava um bolão. Quando Hitler anexou a Áustria, vários jogadores passaram para o time alemão, mas Matthias se recusou. A recusa o colocou numa situação difícil: ficava claro que, além de judeu, ele era uma adversário do nazismo.
No jogo comemorativo pela unificação da Áustria e a Alemanha ele protestou errando vários gols até marcar um na vitória de 2 a 0 do time austríaco Ostmark sobre o alemão Altreich.

Tal atrevimento não poderia ficar impune e ele logo foi encontrado morto em um hotel, envenenado por monóxido de carbono. A maioria dos historiadores acredita que ele foi morto pela polícia secreta nazista.   

O uivo da górgona - parte 43


43
O grupo encontrou sabonete, xampu e outros itens de higiene nos banheiros. Quando terminaram, desceram para a sala de estar.
Roberto e Zulmira haviam cuidado do almoço, que já estava pronto quando o grupo desceu.
Zulmira antipatizara totalmente com Roberto e até mesmo o arroz fizera questão de preparar separadamente. Essa separação se refletia na mesa: de um lado, um grande prato de carne assada, sala de batatas, arroz e farofa; do outro, arroz e uma mistura de batata com batata doce e salada.
O grupo simplesmente ignorou a parte vegetariana e atacou a carne. Apenas a pequena Sofia, talvez por solidariedade, se serviu da comida feita por Zu.
- Vocês têm ideia de quanto esses animais sofreram que vocês comessem essa carne? – indagou Zulmira. Já ouviram falar de pocilga de sequestro? Os porcos são colocados num mesmo ambiente. Eles vêm os outros sendo mortos e tentam fugir.
- Eu já ouvi falar disso. Hoje em dia se aplica um choque neles para que não sofram. – disse Roberto.
- O choque é insuficiente, porque um choque maior queimaria a carne e isso diminuiu os lucros. A maioria recobra a consciência quando estão sendo sangrados. É como se alguém entrasse nesta sala e começasse a nos matar um a um...
Alan bufou:
- Você está ficando louca? Ninguém vai nos matar um a um. O perigo está lá fora.
- Alguns de vocês viram zumbis comendo pessoas. Qual a diferença de nós comendo animais?
- Zulmira, você está passando dos limites. – decidiu Edgar. Estamos comendo.  Não é uma boa hora para falar desse tipo de coisa...
- Além disso, esses animais já estavam mortos quando começou a coisa toda. – completou Alan. O melhor que podemos fazer é comer essa carne deliciosa...

Zu silenciou e dedicou-se ao seu prato de comida... 

Esquadrão Atari

            
Em 1984, a editora DC lançou uma versão em quadrinhos baseada nos jogos de vídeo-games da Atari. Não era a primeira adaptação de games da Atari, mas esse estava destinado a entrar para a história como um dos melhores trabalhos da era de bronze dos quadrinhos. A equipe criativa era composta por dois grandes nomes dos comics: o roteirista Gerry Conway e o desenhista José Luis Garcia Lopes.
            Gerry Conway, nascido em 1952, começou a escrever quadrinhos ainda na juventude com histórias para revistas de histórias curtas da DC Comics, como a House of Secrets, mas seu grande sonho era trabalhar com um título de super-heróis. Graças a um amigo, ele conheceu Roy Thomas, editor da Marvel, lhe entregou um argumento e pediu que ele desenvolvesse. Roy gostou do resultado e, com 19 anos, Conway foi efetivado no cargo de roteirista oficial do Homem-aranha.
            Apesar de inseguro no início (as primeiras histórias eram co-escritas com o desenhista do título, John Romita Senior), Conway logo se destacou e acabou escrevendo algumas das mais importantes histórias do aracnídeo na década de 1970, entre elas a controversa morte de Gwen Stacy. Conway foi também, junto com o desenhista Ross Andru, responsável pela criação do Justiceiro, que surgiria como personagem secundário na série do Aranha, mas se tornaria um dos mais populares da Marvel na década de 1980.
            Em meados da década de 1970, ele foi contratado pela DC, onde faria o primeiro crossover entre as duas maiores editoras do mercado norte-americano: o encontro de Superman e homem-aranha.
            José Luis Garcia Lopez nasceu na Galícia, mas mudou para a Argentina ainda jovem, onde leu muito quadrinho norte-americano, especialmente os trabalhos de Alex Raymond e Roy Crane.
            Indo para os EUA, Garcia Lopes substituiu Joe Kubert na revista Tarzan, o que acrescentaria mais uma influência seu traço, já que na época era comum um desenhista que entrava num título imitar o anterior, para os leitores não sentirem o impacto da mudança.
               Depois de trabalhar para a Charlton, ele se fixou na DC Comics, onde desenvolveria um dos traços mais dinâmicos e bonitos dos comics americanos. Seu visual do Super-homem atlético praticamente redefiniu a imagem do Homem-de-aço. Uma das imagens mais famosas, do personagem arrebentando correntes com a simples flexão dos músculos do peito, é de autoria de Garcia Lopes.
Garcia Lopes foi responsável pelo traço do segundo grande encontro da década de 1970: entre o Hulk e Batman, com roteiro de Len Wein.
Esquadrão Atari juntava, portanto, dois dos nomes mais importantes da era de bronze dos quadrinhos americanos. E ambos não decepcionaram. A primeira história mostrava personagens bastante originais: os mercenários Dart e Blackjack, o gigante bebê, que é seqüestrado de seus planeta natal, a telepata Morféa, vinda de uma civilização em que as crianças são criadas sem identidade (e sempre se refere a si mesmo como “este ser”), o ladrão Paco Rato, o rapaz Tormenta, que tem a  capacidade de se teleportar e seu pai, Martin Champion, um homem obcecado com a idéia de que o universo está sendo ameaçado por uma força poderosíssima chamada Destruidor Negro. Esse time improvável irá se juntar, alguns contra a vontade, para salvar o universo.
Embora a primeira história fosse essencialmente uma apresentação de personagens, ela já apresentava algumas das mais interessantes características da série: a ação vertiginosa e o suspense muito bem trabalhado. A estrela dos primeiros números é Dart, que junto com seu namorado Blackjack vão cobrar uma dívida e são atacados por um exército, mas conseguem escapar. A sequência inicial mostrava os dois lutando contra os soldados do general Ki numa página dupla que é um dos momentos mais clássicos dos quadrinhos da era de bronze. Dart e Blackjack estão no quadro maior, que é invadido por uma mão vinda de fora do quadro, apontando uma arma para Dart. Na sequência lateral, a heroína nocauteia o dono da mão. Ali estão os elementos que fariam de Garcia Lopes um dos desenhistas mais requisitados para capas: a composição inovadora, o dinamismo e o perfeito domínio da anatomia.   
Se Garcia Lopes tinha perfeito domínio da parte visual, Gerry Conway se revelou um mestre do roteiro, com uma ótima caracterização de personagens, narrativas paralelas, e uma trama muito bem costurada. Os dois, inclusive, voltariam a se encontrar anos mais tarde, na minissérie Cinder e Ash, com grande sucesso.
A dupla foi responsável pelo título até o número 12. O número 13 contou com roteiro de Conway e desenhos do estreante Eduardo Barreto, que emulava o estilo de Garcia Lopes. No número 14 a equipe se modificou completamente com a entrada de Mike Baron no texto. Ainda assim a revista continuou com um bom nível de qualidade até o número 20, quando a trama finalmente fechou.

No Brasil, Esquadrão Atari era uma das principais atrações de revistas como Herois em Ação e Superamigos. Infelizmente, questões de direitos autorais com a Atari fizeram que com essa série não fosse republicada, razão pela qual poucos leitores da nova geração conhecem essa obra-prima da ficção-científica. 

Asterix e sua tribo


domingo, abril 23, 2017

O que é o mito ariano?

O mito da raça ariana surgiu no século XIX, quando etnológos propuseram que todos os povos europeus brancos eram descendentes de um povo denominado ariano.
Essa idéia foi usada por diversos teóricos do colonialismo, numa época em que era interessante a idéia de um raça superior às outras. Entretanto, nenhuma dessas correntes deu ao conceito o aspecto macabro do nazismo. Para os nazistas a raça ariana não só era a superior, mas era também a única com direito à existência. Raças indesejadas, como ciganos e judeus, deveriam ser eliminadas e pessoas resultantes da mistura de raças deveriam ser escravas dos arianos.
O mito ariano tem uma relação estreita com as idéias de Herbert Spencer de sobrevivência do mais forte. Entretanto, esse conceito não se encaixa na idéia original de Darwin que dizia não ser a mais forte ou melhor raça a sobreviver, mas a mais adaptada ao seu meio naquele momento.
Um autor importante para as idéias nazistas foi Huston Chamberlain, genro de Wagner. Em sua obra "Fundamentos para o século XX", de 1899, ele disse que a raça superior ariana ainda estava intacta na Alemanha e no Norte Europeu.


Tornou-se popular a idéia de que os arianos germânicos, os mais puros, de acordo com a propaganda nazista, deveriam ser loiros, de olhos azuis e testa alta. Entretanto, muitos dos principais nazistas não se encaixavam nesse padrão. Hitler era baixo e tinha cabelos escuros, embora seus olhos fossem claros. Josef Mengele, possuía olhos e cabelos escuros e Joseph Goebbels, estava longe de ser um exemplo de físico Nórdico em todos os sentidos. 

O uivo da górgona - parte 42


42
O grupo passou por uma porta fechada. Alan colocou a mão na fechadura, mas Roberto o impediu:
- Essa porta dá acesso ao porão, que estava em reforma quando começou tudo isso. Peço que não entrem aí. Há pregos e madeiras espalhadas e não tenho lâmpadas. Alguém pode se machucar.
- Desculpe-me. – disse Alan.
- Oh, não há nenhuma razão para se desculpar. – garantiu Roberto, com um sorriso. Vamos subir para o segundo andar? É lá que ficam os quartos. Não sei se tenho quartos para todo mundo. Espero que não se importem de ficar dois em um quarto.
- Você diz isso porque não sabe o que passamos. Depois de toda a confusão dos últimos dois dias eu dormiria até num canil.
Roberto riu e foi acompanhado pelo resto do grupo. Apenas Zu não riu.
                - Isso deve ter custado uma fortuna! – exclamou Alan.
Estavam num corredor no andar superior. Havia dormitórios dos dois lados e um no final, o maior deles. Os quartos eram amplos, tinha televisão com DVD e banheiros internos.
Roberto sorria.
- E o melhor é que todos os quartos têm isolamento acústico. A não ser que um de vocês resolva passear lá fora, estarão seguros aqui...
Zu chamou Edgar para um canto:
- Que razão um de nós teria para passear lá fora sozinho?
Edgar olhou-a, severo:
- Zulmira, você está passando dos limites.
Depois desceram para a cozinha. Havia uma geladeira e dois freezers. Um deles estava repleto de carne.
- Como tenho energia elétrica, assim que aconteceu a coisa, fui em mercados e peguei carne para estocar.
Zulmira e Jonas e aproximaram para ver.
- Cadáveres. – comentou Zu.
Roberto pareceu desconcertado:
- Cadáveres? Como...?
- Ela é vegetariana. – esclareceu Alan.

- Oh, sim. – suspirou Roberto. Tenho também muitas verduras. Não é por isso que vão passar fome... 

Nas montanhas da loucura


sábado, abril 22, 2017

O que aconteceu com os cientistas judeus na Alemanha?

A maioria fugiu, a exemplo de Albert Einstein, que foi para os EUA em 10 de março de 1933, logo no início do regime nazista.
A situação desses cientistas ficou bem clara em 6 de maio de 1933. Nesse dia, Max Planck, um dos cientistas mais importantes da época e pai da física quântica, teve uma reunião com Hitler. Ele queria evitar a demissão do químico Fritz Haber, de origem judia. Haber havia sido um dos principais responsáveis pelo uso de produtos químicos na I Guerra Mundial. Além disso, a técnica de fixação da amônia a partir do nitrogênio, inventada por ele, permitiu a criação tanto de explosivos quanto de fertilizantes baratos.
Planck argumentou que existiam diversos tipos de judeus, alguns valiosos e outros inúteis para a humanidade e que Haber estava entre os que eram valiosos. Hitler ficou histérico e começou a berrar, tremendo de raiva: “Se a ciência não pode passar sem os judeus, teremos que passar sem a ciência”.

Era a sentença de morte para todos os cientistas de raças indesejáveis que continuassem na Alemanha. Muitos do que fugiram para os EUA iriam contribuir para que aquele país fosse o primeiro a desenvolver a bomba atômica. 

PassaVida

Messias Indeciso - Raul Seixas

O uivo da górgona - parte 41


41
Havia uma pessoa ali, um homem de cerca de trinta e cinco anos. Vestia uma calça jeans e tênis e uma camisa gola polo. Estava entrando em uma casa e o portão automático fechava-se. Era uma pessoa normal e não tinha visto eles!
Jonas começou a gritar e Edgar levou algum tempo para entender que o outro estava tentando chamar atenção do desconhecido.
- A buzina! – gritou Alan, lá atrás.
Edgar acelerou enquanto pressionava a buzina. Mas quando pararam ao lado do portão, ele havia se fechado, escondendo o interior
Olharam à volta: era um muro imenso, de mais de três metros. Havia câmeras lá no alto. Olhos cegos, pensou Edgar. Não funcionam sem energia. Mas espantou-se ao ver que elas se movimentavam.
Então o portão se abriu com um estalo.
O enorme portão de metal foi se abrindo lentamente, revelando um amplo quintal. O proprietário deveria ter comprado dois terrenos para a casa. O chão da garagem era todo de granito. Havia um carro branco ali, mas teria espaço para pelo menos dois outros veículos. O homem estava lá, em pé, com o controle na mão e um sorriso no rosto.
- Nossa, vocês não têm ideia de como estou feliz de ver pessoas normais!
Edgar ficou lá, parado e abismado. O portão abrindo, as câmeras se mexendo, as luzes acesas... aquela casa tinha energia!
- Melhor vocês entrarem. É perigoso deixar o portão aberto tanto tempo.
Edgar manobrou para dentro da garagem e o homem fechou o portão o mais rápido possível. Quando os sobreviventes saíram, ele estava lá, um sorriso radiante no rosto, as roupas escrupulosamente levadas e passadas, os tênis brancos.
No meio de toda a confusão dos últimos dias, Edgar sentia-se um trapo. Provavelmente sua roupa estava suja e amarrotada e ele duvidava que seu rosto estivesse melhor. Assim, ver aquele homem era quase como encontrar uma criatura dos sonhos.
- Sejam bem-vindos. – disse ele. Eu sinceramente achei que todos tinham se transformado naquelas coisas. É muito bom ver pessoas normais.
O grupo desembarcou e, ao ver a menina, o homem se abaixou para cumprimentá-la:
- Uma criança! Qual é o seu nome, menina?
Sofia não respondeu. Olhou para o homem e depois para Edgar.
- Ela é surda. – explicou o professor.
- Surda? – repetiu o homem. Isso explica porque ela não se transformou...
O homem se levantou e fez um carinho da cabeça de Sofia:
- Seja bem-vinda, menina. Aqui você está segura.
Edgar adiantou-se e apertou a mão do desconhecido:
- O nome dela é Sofia. O meu é Edgar.
- Prazer em conhece-lo, Edgar. Meu nome é Roberto.
Edgar apontou à volta:
- Estou impressionado. Achei que a energia tivesse caído em toda a cidade.
- E caiu. – respondeu Roberto. Eu tenho um gerador de energia movido a óleo diesel. Enquanto a cidade tiver combustível, teremos energia. E ainda existem vários postos por aí, apesar de um deles ter explodido ontem...
- Nós passamos pelo posto. Havia muita gasolina derramada. O sol deve ter feito o resto... 
- Entendo.
O grupo foi apresentado e Roberto convidou todos a entrarem em sua casa. Era uma casa limpa e asseada, elegante. As paredes eram grossas:
- Toda a casa tem isolamento acústico. Por isso eu não me transformei numa daquelas coisas quando soou o... que nome dar para aquilo?
- Edgar chama de uivo da górgona. – explicou Jonas.
- É justo. – disse o outro, após alguns minutos de reflexão. Vamos, entrem.
O grupo foi entrando, meio abismado com tudo. Sofia acercou-se, maravilhada, de uma televisão.
- Nenhum canal está pegando, mas posso colocar desenhos animados e jogos. Ela gosta, não gosta?
Edgar deu de ombros:
- Eu realmente não sei.
- Vamos descobrir. Aqui tenho tudo. Energia, comida, isolamento acústico. Aqui estarão seguros e alimentados. Venham, vou lhes mostrar o resto da casa.
O grupo o seguiu, mas Zulmira puxou Edgar na direção oposta:
- Tem alguma coisa errada nisso tudo.
- Como assim? – perguntou Edgar.
- Eu realmente não sei. Mas tudo isso está bom demais. Perfeito demais. De repente achamos alguém que nos dá tudo que precisamos. Não acha isso estranho?
- Eu ainda não vi motivos para desconfiar de Roberto. Ele parece muito simpático e nitidamente está muito feliz de ver pessoas que não se transformaram em zumbis.
- Esse é o problema. – garantiu Zu. Ele é simpático demais. Parece um ator numa propaganda. E tem mais uma coisa: por que ele fez isolamento acústico na casa toda? Você tem ideia de quanto deve ter custado isso?
- Eu sei muito bem. Fazer apenas no meu quarto já foi caro. Mas ele parece um homem rico e deve gostar de silêncio. Eu e você não gostamos da barulheira. Deveríamos ser os primeiros da dar razão a ele.
- Ainda assim...
Edgar virou-se na direção do grupo:
- Começo a achar que você é paranoica.

Zu deu um longo suspiro e seguiu o professor, resmungando. 

Xuxulu toma banho


O Mestre do Kung Fu

          
  Na década de 1970, a grande moda eram as artes marciais. No cinema, os filmes de Bruce Lee eram sucesso de bilheteria. Na televisão, a série Kung Fu, com David Carradine (o “pequeno gafanhoto”) ganhava cada vez mais fãs. Não ia demorar muito, portanto, para que essa mania chegasse aos quadrinhos.
            A Marvel lançou o super-herói Punhos de Ferro, enquanto a DC lançou O Dragão do Kung Fu, sem falar nas pequenas editoras, que também publicaram revistas para aproveitar a febre. Mas o personagem mais famoso e mais emblemático dessa onda seria Mestre do Kung Fu, criado por Steve Englehart (roteiro) e Jim Starlin (desenhos).
            Os dois procuraram o editor-chefe da Marvel, Roy Thomas, com a proposta de adaptar para os quadrinhos o seriado de TV. Thomas lembrou que a série pertencia à Warner Bros, dona da DC. Então, ao oferecer a proposta para a Warner eles não só receberiam um não, como ainda dariam uma ótima idéia à DC Comics. Mas a editora do Super-homem já estava pensando em adaptar o seriado. Roberto Guedes, no livro A era de bronze dos super-heróis conta que Denny O´Neil teria alertado o Publisher da DC, Carmine Infantino,sobre a possibilidade da Marvel lançar esse material. “Não se preocupe. Se a Marvel lançar o Kung Fu, nós fazemos o Fu Manchu”. Fu Manchu era um vilão clássico dos pulp fiction (revistas baratas de contos, muito populares até a década de 1930). Roy Thomas ficou sabendo disso e resolveu comprar os direitos do personagem, transformando Fu Manchu no pai do herói da série.
            Assim, a revista em quadrinhos contava a história de Shang-Chi, um jovem mestre nas artes marciais, criado como uma arma viva por seu pai, Fu Manchu, que pretendia usá-lo para dominar o mundo. Ao descobrir as intenções de seu pai, Shang-Chi foge e se alia à agência britânica de espionagem, a MI-6, onde conhece aquela que seria sua namorada, Leiko Wu.
            A história estreou na revista Special Marvel Edition, 15 que passou a se chamar Master of Kung Fu a partir do número 17 por conta da popularidade do personagem.
            Embora Shang-chi tenha sido criado por Steve Englehart, foi Dough Moench que se estabeleceu no título, escrevendo as mais importantes histórias. Com a entrada de Paul Gulacy, estava formada a dupla favorita dos fãs.
            Gulacy tinha um traço fotográfico que espantou os fãs. Para tornar o trabalho mais realista, ele conseguiu uma cópia do filme Operação Dragão, projetou numa tela e fotografou as cenas congeladas. Assim, o personagem ficava com a cara de Bruce Lee.
            Gulacy desenhou a revista até o número 50, quando foi substituído por Jim Craig. Como este não conseguia cumprir os prazos, foi substituído por Mike Zeck.
            Mike Zeck costumava errar muito em anatomia e não tinha o traço fotográfico de Paul Gulacy, mas trouxe outras qualidades para a série. Seu desenho era fluido e elegante, e combinava muito bem com a nova fase do personagem, mais introspectiva. Depois das sagas centradas nas aventuras de espionagem, o gibi começou adentrar na filosofia zen budista e a explorar mais as relações entre os personagens.
            Esse foco ousado para um gibi de luta fez com que Mestre do Kung-Fu se destacasse de todas as revistas do gênero e durasse até o número 125, superando em muito o modismo das artes marciais. O último número, seguindo a linha introspectiva introduzida por Moench, mostrava o personagem se aposentando para se dedicar à filosofia oriental.

            Sem dúvida, a revista foi um dos grandes momentos da Era de Bronze dos quadrinhos americanos.  

sexta-feira, abril 21, 2017

Existiu uma oração a Hitler?

Sim. Na época do III Reich o culto a figura do fuhrer chegou a tal ponto que era comum comparar Hitler com Jesus, vendo-o como Messias enviado por Deus para salvar a Alemanha.
Essa comparação chegou ao seu cúmulo na criação da oração a Hitler. Essa oração era rezada por crianças de orfanatos e consistia das seguintes falas:

Führer, mein Führer, von Gott mir gegeben, beschütz und erhalte noch lange mein Leben
Du hast Deutschland errettet aus tiefster Not, Dir verdank ich mein täglich Brot
Führer, mein Führer, mein Glaube, mein Licht
Führer mein Führer, verlasse mich nicht.

A tradução aproximada a reza seria algo como:

Führer, meu Führer, que me foste dado por Deus, protege-me e mantém-me vivo por muito tempo.
Salvaste a Alemanha da mais profunda miséria, a ti te devo o meu pão de cada dia
Führer, meu Führer, minha fé, a minha luz

Führer meu Führer, não me abandones.