quinta-feira, janeiro 12, 2017

Informação: universo classificador

Magaroh Maruyama percebeu que conceituamos a informação de acordo com a forma como organizamos o universo à nossa volta. Assim, ele propôs uma classificação da informação  em três universos: o universo classificador, o universo relacional e o universo relevante.

Universo classificador

              Esse é o tipo de informação mais importante para as culturas ocidentais. Talvez isso se deva à grande influência do filósofo Aristóteles.
Aristóteles preocupava-se em classificar os fenômenos naturais, os animais, minerais e plantas em categorias e subcategorias mutuamente exclusivas.
              Os animais são classificados em mamíferos, aves, répteis, peixes, etc... Um animal não pode pertencer simultaneamente a duas categorias. A baleia, por exemplo, embora viva na água, é uma mamífero. Ela não pode ser, ao mesmo tempo, peixe e mamífero.
              A divisão da informação por classificação é estática e não permite muitos entrecruzamentos.
              Na escola, por exemplo, os alunos aprendem matemática, física e química como matérias isoladas. É a compartimentação do saber.
              É interessante notar que a forma como organizamos as informações vai moldar a maneira como pensamos e vemos o mundo.
              Certa vez, quando eu era professor de Redação Jornalística, descontei pontos de uma aluna que havia cometido vários erros gramaticais. Ela contestou a nota com um argumento típico do universo classificador:
              - Você é professor de redação jornalística, não de português, portanto não pode descontar pontos de erros gramaticais.
              Claro que nem todos os adeptos do universo classificador são tão radicais, mas não há dúvidas de que foi o universo classificador que permitiu a compartimentação do saber contra a qual a cibernética tanto lutaria (atualmente o grande crítico dessa compartimentação é o filósofo Edgar Morin).
              Em todo caso, um exemplo muito bom de universo classificador é a biblioteca.
              Os livros são distribuídos nas estantes e nos catálogos através de categorias e subcategorias mutuamente exclusivas.
              Por exemplo: uma estante para ciências exatas, outra para ciências humanas. Na sala de ciências humanas, há o conjunto de estantes de história. Entre elas, há estantes para história do Brasil, história geral e história antiga.
              Muitas vezes essas divisões se tornam complicadas.
              Diante de um livro como “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco, o bibliotecário se vê num aperto.
              O livro é uma ficção literária de alto categoria, mas é também um romance policial ao estilo de autores como Conan Doyle. Por outro lado, é também um verdadeiro tratado histórico sobre a Idade Média. Uma leitura mais atenta revelaria que boa parte de suas páginas são ocupadas com a semiótica, ciência que estuda os signos e até cibernética.
              Em que categoria incluir “O Nome da Rosa”? Em alta literatura? Em ficção policial? Em teorias da comunicação? Em história da Idade Média?
              O mesmo tipo de problema pode ser encontrado nos sites de busca, como o cadê. A palavra ensino nos levará às categorias ensino superior, ensino médio e ensino fundamental. Dentro de ensino superior, há cursos de graduação, cursos de pós-graduação e assim por diante.
              Não há dúvida de que a informação classificadora foi o grande motor do desenvolvimento de nossa sociedade, especialmente do ponto de vista científico e tecnológico. Entretanto, a ênfase exagerada dada a esse tipo de informação revela, hoje, um impasse em decorrência da grande quantidade de informação com a qual lidamos diariamente.
              Por outro lado, o universo classificador, ao pressupor que há algo acima e algo abaixo, permitiu que surgisse a hierarquia e as divisões de classe.
              A sociedade brasileira é organizada de forma classificadora: o presidente está acima do governador, que está acima do governador, que está acima do prefeito. Uma pessoa não pode ser, ao mesmo tempo, presidente e prefeito.

              A ênfase no conceito de liderança decorre de um processo de classificação da informação. Entretanto, para algumas culturas, como a esquimó, o conceito de liderança é irrelevante.

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