quarta-feira, maio 14, 2014

O outro e a pós-humanidade

B-stylers: japoneses que querem ser negros
Uma das metáforas mais interessantes da literatura é O outro. Praticamente inaugurada na literatura por Edgar Alan Poe com o conto Willian Wilson, o tema do outro se estendeu por toda a literatura de fantasia contemporânea (até eu me arrisquei com o tema no meu romance Galeão).
Willian Wilson era perseguido por um duplo, uma pessoa igual a ele, com o mesmo nome, a mesma data de nascimento, mas totalmente oposto. É uma história de terror. Na época moderna e cartesiana, o Outro impunha medo, talvez o medo de partes inconscientes da personalidade.
No início do século XX, psicólogos como Freud e Jung demonstraram que há muito mais por trás da personalidade de cada um do que aquilo que está no exterior e desde então, a psicologia, a antropologia e a sociologia têm identificado cada vez "outros". Uma pessoa nunca é única ou tem apenas uma personalidade. Somos uma somatória de vários "eus".
Hoje, o "outro" não bota mais medo. Ao contrário: as pessoas cada vez mais aceitam esses outros e muitas vezes se identificam com um outro que não é o que está expresso visualmente. Pessoas que fazem cirurgia para mudança de sexo são um exemplo disso.
Agora, vejo uma matéria sobre japoneses que gostariam de ser negros e se vestem, se maquiam etc para parecerem com negros (leia a matéria completa aqui). Não demorará muito para que tenhamos cirurgias plásticas com esse objetivo. Hoje, o corpo humano é cada vez mais moldável e serão cada vez mais comuns mudanças corporais relacionadas às motivações psicológicas de "outros" que emergem. Como diz o artista Starlac, "o corpo humano está obsoleto".
Como sempre, a arte apontou o futuro. Para os curiosos, indico as obras de Sterlac, Orlan e Edgar Franco.

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