quarta-feira, outubro 06, 2010

10 anos de Digestivo Cultural


O mais importante site cultural do Brasil está aniversariando. Trata-se do Digestivo Cultural. Há nove anos eu participo dessa história. Eu já conhecia o Digestivo e lia suas colunas. Um dia, recebi uma ligação do Júlio Daio Borges , dono do site, me convidando para ser um dos colaboradores. Na época eu lecionava no curso de comunicação. E o Digestivo acabou se transformando na leitura predileta dos alunos de jornalismo. Na época era difícil criar um site ou blog, então, a forma da garotada se expressar era mesmo comentando nos sites mais badalados, como o Digestivo.
Ter coluna naquela época era coisa de doido: uma por semana. Como muitas vezes os textos eram resenhas, era o pique de ler um livro por semana e resenhar. O alívio era dado pelos textos, a maioria na área de comunicação, que faziam a delícia dos alunos e provocavam discussões acaloradas em sala de aula. Algumas vezes essas discussões iam para os comentários, embora eu não fosse, nem de longe, um dos colunistas mais polêmicos.
O primeiro texto que publiquei no Digestivo foi uma resenha do livro Baudolino, de Umberto Eco, no dia 10 de dezembro de 2001. Eu fazia uma referência entre o romance e o conceito de obra aberta, também de Eco. Uma garota comentou: “obrigada!!!!!! vcs me salvaram...... estou com uma resenha crítica para fazer sobre "obra aberta"”.
 Pelo menos não pediu para eu fazer o trabalho por ela, como já aconteceu em diversas ocasiões. Como muitas vezes meus artigos tratavam de assuntos acadêmicos, tornou-se muito comum receber e-mails do tipo: “Preciso de texto sobre esse assunto para segunda-feira para entregar na faculdade. Sem falta, ok?” Outros são até mais exigentes: “A professora pediu um trabalho sobre esse assunto com duas páginas. Pode me mandar ainda hoje?”.
Meu segundo texto foi uma resenha do livro Para ler o Pato Donald, que provocou muita polêmica. Uma senhora me acusou de fazer parte da esquerda festiva, que “curte o final de semana em Búzios enquanto se planeja para passar as férias na Europa”.
Foi outro aprendizado: logo descobri que muita gente não consegue diferenciar o resenhista do autor da obra. Quem escreve sobre quadrinhos com certeza já recebeu comentários do tipo: “Vocês deviam ter colocado outro vilão no filme do Superman”.
Pode parecer que não, mas escrever para o Digestivo era sim muito divertido , e leitores que me confundiam com o autor e outros que queriam trabalhos de escola só tornavam a coisa ainda mais divertida. 
Mas chegou a um ponto que as atividade profissionais tornaram impossível continuar com uma coluna semanal de 5 mil toques. Deixei de ser colunista do Digestivo, mas continuei sendo leitor e colaborador ocasional. Os especiais de final de ano tornaram-se uma tradição, não só para escrever, mas também para ler os dos outros. Lembro que no primeiro especial, um dos colaboradores escreveu um texto delicioso que contava exatamente a dificuldade de escolher o que de melhor havia acontecido em termos culturais no ano anterior.
Em 2009, o Júlio me convidou para voltar a ser colunista. Escaldado com a possibilidade de não dar conta do recado, recusei. Ele tentou e tentou de novo, até dizer a palavra mágica: a coluna seria mensal, não semanal.
Desde então tenho publicado um texto a cada mês, sentindo muito orgulho de ser um dos primeiros colaboradores do site. E espero ainda estar no Digestivo quando ele fizer 20 anos.

Sem comentários: