quarta-feira, janeiro 23, 2008



Meu livro Watchmen e a teoria do caos já provocou polêmica. Embora a maioria tenha gostado, alguns não entenderam que o objetivo da obra era analisar o discurso científico de Alan Moore e, portanto, não poderia entrar em outros dos muitos aspectos interessantes da obra. De todas as resenhas, a melhor, parece-me, foi a escrita pelo filósofo Edgar Indalecio Smaniotto para o jornal Graphic, que reproduzo abaixo.




WATCHMEN: Caos e Informação

Edgar Indalecio Smaniotto

Watchmen e a Teoria do Caos (Editora Marca de Fantasia, 2005), de Gian Danton, é uma analise da famosa mini série que revelou o talentoso roterista Alan Moore para os Estados Unidos e o mundo: WATCHMEN.
Como nos lembra Gian Danton, antes da publicação de Watchmen, Alan Moore já fazia história no mundo dos quadrinhos, tendo escrito Miracleman e O Mostro do Pântano. Com Miracleman Moore pretende responder a seguinte pergunta, que parte de “uma idéia simples: como séria o mundo se um super-herói realmente existisse? Como ele se comportaria de verdade?” (p. 12). Já em o Mostro do Pântano temas polémicos e por vezes de difícil assimilação tornam-se o foco do roteiro: ecológica, política, metafísica e ciência.
Em Watchmen os elementos presentes em Miracleman e no Mostro do Pântano são novamente introduzidos, mas agora com uma intensidade narrativa capaz de levar o leitor a um êxtase estético comparado aos melhores clássicos da literatura. Para além das qualidades estéticas da obra (de arte, com certeza), Moore arrasta o leitor em um mergulho por conceitos e teorias científicas: teoria do caos e da informação, efeito borboleta, teoria da complexidade e etc.
É justamente o uso que Alan Moore faz destas diferentes ciências no decorrer da narrativa de Watchmen que interessa ao pesquisador Gian Danton, neste pequeno livro, fruto de sua dissertação de mestrado (mas não se preocupe, o texto de Danton é fluente, sendo prazeroso mesmo para quem não esta habituado a livros com notas de rodapés e citações).
O primeiro capítulo “Os autores”, é um ensaio biográfico a respeito de Alan Moore (roterista) e Dave Gibbons (desenhista) de Watchmen, até o momento da criação da referida mini série, com alguns comentários sobre suas carreiras após o sucesso alcançado com Watchmen.
O segundo capítulo “A obra”, é uma análise geral e consistente de Watchmen, a partir do principio da teoria do caos conhecido como efeito borboleta, usado pelo escritor de ficção científica Ray Bradbury no famoso conto “Um Som de Trovão”, já adaptado para o cinema. Numa caçada ao Tiranossauro Rex, cuja expedição de caça é transportada à pré-história por uma máquina do tempo, um dos caçadores sai da trilha rigorosamente determinada, pisa em uma borboleta, matando-a, e provoca sérias mudanças em sua época.
Em Watchmen, segundo Danton, a borboleta séria o Dr. Manhattan primeiro e único super-herói com super-poderes de verdade (os outros personagens não tem super poderes, são pessoas comuns como o são Batman e o Fantasma). A existência deste super-herói muda completamente a história e as relações humanas.
A fim de buscar uma compreensão dos princípios originários da teoria do caos utilizados por Moore, Gian Danton recorre as obras de Edgar Morin, Hilton Japiassu, James Gleick e Isaac Epstein. Apoiado nestes autores Danton desvela toda a complexidade por traz de Watchmen, revelando ao leitor que esta obra é na verdade um recado de Moore aos cientistas que “ensimesmados em seu mundo determinista, repleto de gráficos e estatísticas, eles se esqueceram do aspecto humano, da não linearidade, do acaso, da incerteza...” (p. 39).
No terceiro capitulo “Uma Imagem do Caos”, Danton recorre ao conceito matemático de fractal (criado por Mandelbrot), que lhe permite analisar e entender alguns elementos de Watchmen: O Castelo do Dr. Manhattan em Marte, a história dentro da história que é o gibi “Contos do Cargueiro Negro”, a reunião patrocinada pelo Capitão Metrópolis, que iria ter influência decisiva para todos os personagens, inclusive Ozimandias, e seu plano para salvar a humanidade de um ataque nuclear. Neste capítulo o autor também busca uma aproximação entre a teoria do caos e a teoria da informação, estando as duas presentes em Watchmen.
O quarto e último capítulo, “Complexidades em Escala”, é uma “análise da primeira parte do quinto volume da edição brasileira de Watchmen”, análise por sinal bastante minuciosa, que além de desvelar para o leitor as informações contidas nesta pequena parte da obra é também uma aula de leitura de histórias em quadrinhos.
Claro que o objetivo principal de uma HQ é sempre o lazer, mas este não precisa ser pobre, pode sim aliar sabedoria e prazer, este parece ser o caso de Watchmen. Já a obra de Gian Danton, Watchmen e a Teoria do Caos, é um livro que merece nossa atenção, bem escrito, fruto de uma análise competente de um clássico incontestável das HQs, é também porta de entrada para que deseja conhecer a teoria do caos. Danton consegue demonstrar que as histórias em quadrinhos são uma arte tão séria e passível de análise científica quanto qualquer arte mais “nobre”. Boa Leitura!

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Edgar Indalecio Smaniotto é filósofo, mestre em Ciências Sociais e autor do livro: A FANTÁSTICA VIAGEM IMAGINÁRIA DE AUGUSTO EMÍLIO ZALUAR: ensaio sobre a representação do outro na antropologia e na ficção científica brasileira. Rio de Janeiro: Editora Corifeu, 2007. Contato: edgarsmaniotto@gmail.com

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia,

Meu nome é Leonardo, sou de Belo Horizonte. Estou para começar um artigo sobre as capas da HQ para o TCC da pós graduação que faço (projetos editoriais impressos e multimidia).

Como faço para adquirir o seu livro sobre Watchmen e a Teoria do Caos?

Teria como vc me enviar sua dissertação de mestrado em pdf para eu poder ler?

Aguardo retorno.

Obrigado

Leo

Gian Danton disse...

Mande um e-mail para profivancarlo@gmai.com.