domingo, agosto 06, 2006

Invasão

Vocês precisam acreditar em mim. Eu os vi e sei o que pretendem.
Eles irão dominar todo o mundo. Vão começar pelos pequenos povoados. Depois passarão para as grandes metrópoles. Quando abrirmos os olhos, eles estarão em todos os lugares. Será impossível distingui-los das pessoas normais. Qualquer um poderá ser um deles: o entregador de pizza, o rapaz da banca de jornais, a velhinha que se senta ao seu lado no banco da praça...
Não haverá ninguém em quem confinar...ninguém!
Eu... eu... talvez seja melhor eu me acalmar e contar tudo desde o início. Sim, desde o início...
Tudo começou há uma semana.
Eu estava pescando num lago próximo de minha casa quando vi uma luz descer do céu na direção da floresta. Eu a segui, intrigado, pelo meio da mata.
No meio de uma clareira, encontrei uma miríade de luzes e cores agrupadas sobre uma forma abaulada. A coisa toda devia ter uns 50 metros de diâmetro. No meio havia uma abertura. Eu penetrei por ela.
Era como se caminhasse sobre nuvens, como se as paredes refletissem a vastidão do cosmo. Havia alguns seres lá dentro. Criaturas esverdeadas, dotadas de cérebros descomunais. Havia um humano preso em uma cadeira de mil braços. Eles abriram seu crânio e retiraram seu cérebro. Colocaram ali uma massa verde e gosmenta. Eles o haviam transformado em uma espécie de zumbi mutante!
A horrível verdade ia tomando conta de minha mente à medida em que me afastava dali: eles pretendiam conquistar nosso planeta infiltrando entre nós seus zumbis intergaláticos.
Eu parei e vomitei até que minhas vísceras gritassem. Não, não podia ser verdade. Era louco demais, completamente sem sentido.
Devia ser algo da minha imaginação. Sim, era isso! Eu imaginara tudo? Criaturas do espaço dominando o planeta Terra e nos transfomando todos zumbis? Sem, era apenas imaginação minha.
Voltei para casa disposto a esquecer tudo isso. Lá estava minha cadeira de balanço na varanda, como sempre. Lá estava minha velha arma de caça, pendurada na parede. Lá estavam meus filhos, minha esposa. Tudo em seu lugar. Tudo normal.
No dia seguinte, fiquei feliz em perceber que o Sol ainda iluminava nosso velho e bom mundo. No trabalho, na rua... tudo estava normal. Não havia invasão. Não havia Ets ou zumbis...
Naquela noite eu fui dormir satisfeito e seguro. Não havia nenhum perigo, nada com o que se preocupar.
Acordei de madrugada e Helena não estava ao meu lado. As crianças também não estavam em suas camas.
Um estranho pressentimento tomou conta de mim. Peguei a arma e caça e o machado e segui para a floresta.
O que encontrei ali faria gelar o sangue do mais corajoso dos homens: metade da cidade estava reunida em torno dos homenzinhos verdes. Eles estava recebendo suas instruções! Lá estava minha mulher, meus filhos... até mesmo a simpática velhinha da esquina... todos com seus olhares de zumbis e feições sem expressão.
Um deles me viu e deu o alarme. Logo centenas de pessoas estavam em meu encalço.
Eu fugia, atirando de quando em quando para mantê-los afastados. Mas para cada zumbi que eu matava, apareciam três ou quatro, sedentos por meu cérebro.
Finalmente alcancei minha casa e me tranquei lá dentro.
Lá de fora, a coisa verde e gosmenta falava, tentando imitar a voz de minha mulher:
- Querido, nós somos sua mulher e seus filhos. Você está confuso, mas não se preocupe... no final dará tudo certo. Vamos, abra, seus filhos estão chorando.
Eu não pude resistir. Abri a porta abracei meus filhos, chorando. Foi quando percebi uma gosma esverdeada escorrendo de seus ouvidos. Eu arranquei suas cabeças com a machadinha e recarreguei a arma. Comecei a atirar em todos que estavam à minha frente. Eu poderia morrer, mas não arrancariam meu cérebro.
Ouviu bem? Jamais vão me transformar em um zumbi! Jamais vão tirar o meu cérebro! Vou resistir até o último minuto...

O paciente começou a se debater, tentando soltar as amarras da camisa de força e soltando baba pelos lábios. O enfermeiro recuou, horrorizado.
- Perturbador ouvir esse aí, hein? – comentou outro enfermeiro. Se eu fosse você, não chegava tão perto das grades. Esse psicopata é realmente perigoso. Ele arrancou a cabeça da mulher e dos filhos com um machado e trucidou metade do bairro. Até que a polícia chegasse, ele já havia feito dezenas de mortos. Você está pálido?! Venha, vamos tomar um café. Você está precisando.

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