sexta-feira, janeiro 27, 2006

Texto no jornal do dia

Saiu hoje no Jornal do Dia uma matéria sobre o dia do quadrinho nacional. Junto com o texto sobre quadrinhos, foi publicado um artigo meu. Ocorre que o artigo saiu com um parágrafo que não fazia parte do texto. O texto original é este:

ROTEIROS DE QUADRINHOS

Embora essa seja uma faceta pouco conhecida de minha biografia, durante muito tempo fui roteirista profissional de quadrinhos (assinando como Gian Danton) e ainda escrevo alguns textos, a pedido de amigos desenhistas ou de editores. Alguns dos meus grandes amigos são desenhistas de quadrinhos, muitos de sucesso, como Miguel Delalor, que atualmente vive na França e publica na principal editora de quadrinhos da Europa, ou Bené Nascimento, que embora viva em Belém, é um dos grandes astros da editora norte-americana DC Comics e o principal responsável pelo sucesso do título Gavião Negro.
Nesses mais de 15 anos de atividade, tive a sorte de ganhar os principais prêmios da área, como HQ Mix, o Ângelo Agostini e o Araxá.
Alguns dos roteiristas mais importantes da geração atual foram meus alunos em cursos que durante algum tempo ministrei sobre o assunto na internet.
Essa experiência me mostrou que é impossível escrever quadrinhos sem ter uma sólida base de leitura. Um roteirista de quadrinhos é alguém que está antenado para todas informações possíveis. Nunca se sabe de onde pode surgir uma idéia. Em uma história recente que escrevi, tive de recorrer a vários exemplares das revistas National Geographic, Superinteressante e Scientific American e mergulhar na obra de Jorge Luís Borges.
Meu livro Watchmen e a teoria do caos mostra como o roteirista britânico Alan Moore usou os conceitos dos novos paradigmas científicos para elaborar sua obra-prima, Watchmen.
Recentemente, um editor de São Paulo me convidou a escrever um livro sobre as influências literárias nas histórias em quadrinhos. Fiquei na dúvida, não porque seja difícil encontrar exemplos, mas pelo contrário. Eles são tão abundantes que isso me obrigaria a uma exaustiva pesquisa bibliográfica e eu corria o risco de me esquecer de alguns casos exemplares.
Apesar disso, ainda existe um grande preconceito contra os roteiristas de quadrinhos, vistos como escritores menores, preconceito que senti na pele em uma lista de discussão de roteiristas na qual participo na internet.
Esse preconceito, além dos antecedentes históricos, tem, provavelmente sua origem no fato de que muitos acham que qualquer analfabeto pode bolar uma HQ.
Recentemente fiquei espantado ao descobrir que um rapaz que se orgulha de nunca ter lido um livro estava lecionando um curso de quadrinhos e sendo responsável justamente pela parte de roteiro! Da mesma forma que existem pessoas que nunca leram um livro lecionando cursos de quadrinhos, há outros que só lêem gibis de super-heróis norte-americanos, mangas feitos para a massa e só assistem aos filmes comercias norte-americanos.
Além daquilo que é mais conhecido pelos leitores em geral, um bom roteirista deve ler de tudo, dos luxuosos álbuns europeus de Bourgeon ao movimento nouvelle mangá, passando pelos escritores britânicos, como Alan Moore, Neil Gaiman, Petter Milligan e pelos clássicos como o Príncipe Valente, de Hall Foster. Aos que se interessam em fazer esses cursos, o melhor conselho é procurar conhecer quem são os professores, em que editoras eles publicaram e, conversando, procurar saber deles o nível de repertório, de leitura de livros e de mundo.
Caso não, é muito fácil para qualquer que um se auto-intitular roteirista de quadrinhos e ganhar dinheiro à custa de incautos, aumentando assim o enorme preconceito que existe contra essa área.

Ivan Carlo é mestre em comunicação e professor universitário

2 comentários:

Anónimo disse...

Mais uma vez mandou bem Jean, Parabéns.

Anónimo disse...

Ontem cheguei desolada em casa.
Primeiro porque a chuva de São Paulo caiu quase toda, em minha cabeça descoberta de sombrinha.
Segundo porque vão mudar a Gibiteca do Sesi de lugar. E descobri isso molhada de chuva.

A Gibiteca sai da Paulista e vai pra longe de mim. Lapa eu acho.

E agora, como vou ler Will Eisner, morrer de amores pelo Homem Aranha e rir da Piada Mortal?

Que foi?
Meninas também gostam de quadrinhos. É verdade que não entendo muito, mas a.d.o.r.o ler.
:)