quinta-feira, abril 25, 2024

A arte cativante de Bill Walko

 


Bill Walko é um ilustrador norte-americano conhecido por seus trabalhos para a Image Comics, Dynamite, DC, Dark Horse e para o jornal New York Times.

Ele também criou a aclamada tira humorística The Hero Business, que satirizava o mundo dos super-heróis e foi publicada New Friday Comics. A tira aproveitava muito bem o estilo de traço que unia a anatomia dos super-heróis com o estilo cartunístico.

Walko também ilustrou diversas campanhas publicitárias nos EUA.















quarta-feira, abril 24, 2024

Spaceballs

 

Spaceballs foi lançado no ano 2000. Foi o sexto volume da coleção Fantástica, organizada por Cesar T. Silva e Marcelo Simão Branco, ambos editores do zine Megalon.
O título da história é uma referência à música homônima do Pato Fu. Para quem não conhece, Spaceballs é uma letra pacifista sobre pessoas com seus longos cabelos que atravessam o universo. Eles não têm a glória da guerra porque simplesmente não acreditam na guerra. Isso me levou a refletir sobre como a ficção-científica, em especial a space opera, é militarista. Até mesmo Jornada nas Estrelas, uma série pacifista, tem militares como protagonistas.
O editor apresentou assim o livro: “Nesta edição a ação vai para o espaço, literalmente. Um grupo de revolucionários hippies sequestra uma astronave e, sem usar de qualquer organização hierárquica, conseguem lubridiar todo o aparelho repressor do estado totalitário que domina o mundo em sua realidade. Uma história bem ao gosto dos leitores que apreciam a aventura no estilo agradável e bem desenvolvido de Gian Danton”.
A coleção Fantástica foi um marco na ficção-científica brasileira. Em formato de bolso, edição praticamente artesanal, custava 20 reais a assinatura com todos os números. Foram iniciativas como essa que seguraram a FC nacional em uma época em que as editoras tinham banners nos quais se lia: “Não aceitamos originais de ficção-científica, fantasia e terror”.

Sargento Rock – O soldado sorvete

 


Muitas das histórias da série Sargento Rock são sobre soldados que encontram forças para feitos extraordinários, superando as expecativas que todos têm a respeito deles. Exemplo disso é a história o soldado sorvete, publicada em Our Arm at war 85.

A história começa com o sargento explicando que o lema de sua companhia é “quando você está na moleza... não há moleza para você!”. Em seguida começa a falar dos vários tipos de aparecem por lá, entre eles alguns que parecem menos aptos, a exemplo do soldado Phil. Em sua missão, o garoto se jogou no chão da trincheira quando começou o fogo inimigo: “Eu tava na cobertura, sargento, quando vi a artilharia pesada do inimigo. Era chumbo quente suficiente para nos derreter!”.

O soldado sorvete não faz nada certo... 


Pronto, o recruta acabara de ganhar um apelido: “Então ele tem medo de derreter... deve ser um soldado sorvete!”.

A história continua com situações e mais situações em que o soldado sorvete parece cada vez mais inapto para o serviço militar, se jogando chão na hora errada, congelando nos momentos mais decididos. Enquanto isso, o tempo vai esfriando e o garoto sofre uma ulceração nos pés. Mas é nesse momento que o soldado sorvete mostra o seu valor, salvando sua companhia.

... mas no final encontrará a redenção. 


Como é comum nas histórias escritas por Robert Kanigher, a história conclui com uma piada sobre o mote da história e ao mesmo tempo, uma lição, quando o rapaz diz: “Lutar no gelo não é difícil... pelo menos para um soldado sorvete, certo?”.

Vale destacar nessa história o desenho espetacular do Joe Kubert, que consegue transmitir tanto a insegurança do personagem no início, quanto sua resolução, no final.

Flash Gordon e Jornada nas Estrelas - as versões animadas

 


Consegui com amigos algumas preciosidades: os desenhos animados de Jornada nas Estrelas, Planeta dos Macacos e Flash Gordon. Todos foram produzidos pela Filmation, a mesma que depois ficaria famosa com os desenhos de He-mam e She-ha.

A Filmation conseguia ser particularmente irritante quando queria fazer desenhos humorísticos. Alguns devem se lembrar de pelo menos umas três séries em que os personagens andavam duros e tocava uma musiquinha repetitiva de fundo, algo como íon íon íon...

Mas era uma boa produtora de desenhos mais sérios, especialmente de Ficção-científica.



O desenho de Flash Gordon é relativmente fiel à série de Alex Raymond, o que talvez seja um defeito. Flash Gordon é uma space opera, um tipo de ficção que se sustentava com um perigo a cada tira e um monstro a cada semana. Aprofundamento de personagens ou tramas mais elaboradas, nem pensar. A série da Filmation pega exatamente esse clima juvenil de catarse em que um herói vence todos os perigos e ainda conquista todas as moças bonitas que passam pela sua frente. Uma única mudança estranha é o visual da filha do vilão Ming. Nos quadrinhos ela é uma gata com saias esvoaçantes semi-transparentes. Nos desenhos ela parece um protótipo de She-ha.

Em Flash Gordon eles repetem à exaustão uma cena em que o herói corre na direção da câmera. Ela obviamente foi feita com uma técnica, a rotoscopia, em que se filma atores e depois se desenha em cima, o que dá um ar realista. Ficou tão bom que depois eles repetiram a mesma cena em He-man e Tarzan, só mudando os personagens e o fundo.



Bem melhor é a série animada de Jornada nas Estrelas. Produzida pelo mesmo pessoal que fazia a série live-action, ela tem todos os elementos do original, mais o charme da animação. Há epsiódios pavorosos, como O vulcano infinito, que lembra muito um episódio da série original, o cérebro de Spock. Na história, seres vegetais raptam spock para cloná-lo em tamanho gigante e transformá-lo numa espécie de campeão da paz na galáxia. Lamentável. Mas também há bons episódios, como Perdido no esquecimento, que explora a infância de Spock e suas dúvidas sobre seguir mais sua origem vulcana ou humana. Há episódios divertidos, como O computador humorista, ou Mais pingos, mais problemas e outros mais críticos como A mágica de Megas-tu. Outros são muito criativos, como Paralelos, em que a Enterprise vai parar em uma dimensão em que tudo é ao contrário.

No final, entre mortos e feridos, salva-se todos. Pelo menos para os fãs.

Infelizmente o desenho só teve 22 episódios produzidos. As histórias, apesar de algumas concessões, eram adultas demais para crianças e os adultos não tinham costume de assistir a desenhos animados. Também pesou negativamente o fato de que a série foi transmitada em horário ruim, de manhã, na hora do trabalho, quando os fãs não podiam assistir. 

Isaac Asimov Magazine

 


Isaac Asimov magazine foi a mais importante revista de contos de ficção científica já publicada no Brasil. Era um tijolão de centenas de páginas em papel jornal com os melhores escritores de FC do mundo (incluindo brasileiros). 
Para se ter uma ideia passaram por suas páginas gente como George Martin (na época desconhecido no Brasil), Carlos Orsi, Orson Scott Card, Frederick Pohl, Jorge Luiz Calife, Gerson Lodi-RibeiroRoberto De Sousa Causo e Charles Sheffield, cujo conto "Pesadelos da mente clássica" eu considero um dos mais importantes textos de FC de todos os tempos. 
Era uma publicação obrigatória para os fãs de literatura de gênero na década de 1990. Durou 25 números - um verdadeiro feito em país que não lê. 
Levei anos tentando montar a coleção e finalmente consegui todos os números.

Monstro do Pântano – Em casa

 


Uma das características da passagem de Alan Moore pelo Monstro do Pântano foi usar as histórias como metáforas sociais. E o momento mais marcante disso é quando Abbe Cable é presa por seu envolvimento com o Monstro do Pântano. Ela é a acusada de crime contra a natureza. A situação, obviamente, é usada para se referir a todas as formas de relacionamento que foram ou são consideradas crime em algum local, a exemplo da homossexualidade, que até 1967 era considerada crime na Inglaterra. De forma mais ampla, a metáfora pode servir para qualquer outro tipo de relacionamento não convencional.

Essa situação dá origem a uma trama que tem início em Swamp Thing 51.

Abbe é presa por "crime contra a natureza". 


Nessa história, Abbe está presa e passa pela audiência de instrução. A fala do juiz é mais um daqueles momentos de Moore deixa clara sua metáfora: “A polícia me diz ter provas de que a senhora teve relações íntimas com um ser não-humano. Inacreditável. Mas como a senhora parece se recusar a negar que as tenha tido, não tenho escolha a não ser interpretar esse sórdido caso apenas pelo que ele aparenta. Preciso também levar em conta que a senhora trabalha com crianças...”. O episódio é uma clara alusão às tentativas, feitas por conservadores, de relacionar a homossexualidade à pedofilia.

Após ser solta, ela foge da cidade. 


Desperada, vítima de assédio, Abbe resolve fugir. Acaba escolhendo um ônibus logo para Gothan City.

Paralelo a isso, o Monstro do Pântano volta à terra (depois da batalha na periferia do inferno) e descobre que sua amada desapareceu.

Essa é uma edição morna, de preparação, mas mesmo assim consegue ser atrativa principalmente graças ao texto primoroso de Moore. Uma curiosidade é que essa HQ é a primeira desenhada por Rich Veidt, um cara vindo do underground, e arte-finalizada pelo filipino Alfredo Alcala.

A arte deslumbrante de Alfredo Alcala

 


O filipino Alfredo Alcala começou sua carreira nos quadrinhos em 1948 desenhando para a revista Bituin Komiks. Logo ele se tornou popular a ponto de ter uma revista com seu próprio nome, a Alcala Komiks. Foi para essa revista que ele criou em 1963 o personagem Voltar, com características visuais muito parecidas com as que viriam a ser adotadas depois para o bárbaro Conan nas capas de livros e nos quadrinhos.

Na década de 1970 o também desenhista Tony DeZuniga se mudou para os EUA e abriu a porta do mercado norte-americano para os artistas filipinos. Alcala foi um dos primeiros a integrarem a invasão filipina. Ele trabalhou para a DC Comics, Warren e Marvel, sempre se destacando por seu estilo detalhado e a rapidez na entrega dos trabalhos.

A rapidez de Alcala é representada por uma história. Dizem que quando ele foi para os EUA os editores da DC perguntaram quantas páginas ele conseguiria fazer por semana. "40 páginas", respondeu ele. Os editores se entreolharam, incrédulos e tiraram de uma pasta um original de Neal Adams. "Mas queremos com esse nível de qualidade". "Ah, se for assim a situação é diferente", respondeu Alcala. "Nesse nível de qualidade eu consigo fazer 80 páginas por semana!". 

Quando a Marvel resolveu transformar o título do Conan em um magazine preto e branco, Alcala foi a escolha óbvia para arte-finalizar o traço de John Buscema na maioria das histórias. As hachuras criadas por ele eram uma verdadeira assinatura e permitiam identificar imediatamente seu estilo nas histórias. Alcala ajudou a dar o ar brutal e bárbaro para o título.

Alcala arte-finalizou diversos outros desenhistas, entre eles Don Newton no Batman.










terça-feira, abril 23, 2024

A fantástica história do homem que não existia

 


Já está disponível para leitura, no site da FAV-UFG, a minha tese A fantástica história de Francisco Iwerten: hiper-realidade e simulacro nos quadrinhos do Capitão Gralha. O PDF pode ser baixado aqui.

Perry Rhodan – A morte da Terra

 


A morte da Terra, volume 49 de Perry Rhodan, é o fechamento do primeiro ciclo de aventuras do personagem e, portanto, o ponto alto, no qual se resolvem alguns dos maiores conflitos das primeiras histórias.

Na trama, saltadores, superpesados e aras decretam o fim do planeta Terra, mas Rhodan estabelece um ardil: mudar os dados de navegação da única nave que contém essa informação, fazendo com que o ataque aconteça no terceiro planeta do sistema Beta.

Para dar credibilidade a essa versão, duas naves terrenas são enviadas para o local, mas acabam descobrindo que o quarto planeta contém uma base dos tópsidas, antigos inimigos de Rhodan. O que deveria ser um problema vira a parte mais genial do plano: eles conseguem convencer os répteis de que os mercadores cósmicos pretendem na verdade atacar a base instalada no quarto planeta. Ou seja: colocam os principais inimigos do primeiro ciclo em rota de colisão.



É exatamente isso que acontece em A morte da terra: a luta entre saltadores e tópsidas, que terminará com a destruição do terceiro planeta. Mas há um problema: um dos superpesados já visitou os sistema solar e pode revelar aos outros que o ataque é um engano.

Esse é o fio condutor do enredo: o leitor nunca sabe se Topthor conseguirá fazer sua revelação. Isso inclusive gera diversas ocasiões de suspense.

O livro é escrito por Clark Darlton, que, embora não seja tão bom quanto K. H. Scheer na descrição de batalhas, é alguém que sabe lidar com o suspense. O resultado é um livro com alto nível, digno de fechar um ciclo.

Entrentanto, para quem leu todos os volumes, fica óbvio que vários ganchos lançados no volume 46, escrito por Kurt Brand, ficaram como pontas sotas. Nãos sabemos, por exemplo, quem era o traidor na nave de Talamon. Como o autor da sinopse dos volumes era K. H. Scheer, um autor detalhista, é possível que esses ganchos não estivessem na sinopse e tenham introduzidos por Brand, que se esqueceu de solucioná-los no próprio volume.

O Super-homem de Garcia-López e Gerry Conway

 


No início da década de 1970, Garcia-López era apenas um espanhol criado na argentina recém-chegado aos EUA e procurando um espaço no mercado dos comics. E Gerry Conway era um roteirista iniciante, chegando na DC depois de uma fase memorável na Marvel, escrevendo o Homem-aranha. 
O início da parceria dessa dupla (que se tornaria uma das mais afinadas dos comics, principalmente na obra-prima Esquadrão Atari) que podemos acompanhar no primeiro volume das Lendas do Homem de Aço. É curioso ver como ambos, tanto roteirista quanto desenhista, vão tentando se acostumar com o personagem. Conway demora para dar verossimilhança para o personagem (a explicação para Clark Kent continuar apresentando o jornal enquanto o Superman atua é sofrível) e Garcia-Lopez sofre com arte-finalistas que não combinam com seu desenho limpo. O confroto com a Mulher-Maravilha é nitidamente o ponto que os dois se acertaram (apesar da arte-final de Dan Adkins muitas vezes sujar o traço limpo de Garcia-López). Conway constrói uma boa trama retrô e o desenhista demonstra toda sua capacidade para anatomia, perspectica e diagramação de página. 


A última história do álbum, "A mensagem do sonhador" é o ponto em que podemos a dupla finalmente afinada, com um contexto de ficção-científica que certamente antecipa Esquadrão Atari e uma trama interessante, sobre um alienígena que deve entregar uma mensagem de paz, mas tem sua nave atingida por um meteoro.
Infelizmente, Garcia-López ficou pouco tempo no título. Logo ficou claro que seu traço vendia e ele era chamado para desenhar os primeiros números de novas revistas, como forma de alavancar as vendas, ou fazer capas de outras.
Posteriormente o desenhista foi chamado para fazer o guia de estilo dos personagens da DC, ficando também responsável pelas imagens promocionais - trabalhos belíssimos, que passaram a estampar lancheiras, camisas e tudo mais que tivesse personagens da DC.

Gian Danton: a origem do pseudônimo

  Algumas pessoas têm me perguntado qual a origem do meu pseudônimo Gian Danton. Essa é uma pergunta comum, mas, olhando para trás, percebo que nunca escrevi sobre o assunto.

Gian Danton surgiu em 1989, quando comecei a publicar minhas primeiras histórias em quadrinhos, em parceria com Bené Nascimento (Joe Bennett). Um amigo de teatro, que já havia tido problemas com a ditadura militar, e vendo que minhas histórias poderiam ser consideradas subversivas, me aconselhou a usar um pseudônimo.
Além disso, na época eu estava inaugurando uma coluna no jornal O Liberal e já havia colunas de uns tais de Ivan Andrade e Ivan Oliveira (eu não havia pensado no Ivan Carlo).
Na época eu era quase obcecado pela revolução francesa. Tinha tudo que saía sobre esse fato histórico: livros, revistas, fascículos. E Dantonera o personagem mais interessante dessa trama que mudou o mundo. Os outros dois grandes revolucionários pareciam mais bidimensionais: Marat era o revolucionário radical e Robespiere era o homem de costumes austeros, que levou a revolução na direção do terror.
Danton era revolucionário radical, mas também era humano, tanto que foi o único a se levantar contra o terror revolucionário, que matou milhares de pessoas (inclusive crianças), apenas porque eram nobres ou porque discordavam de Robespiere. Era também um bom-vivant, um homem divertido e inteligentíssimo, que tinha sacadas geniais. Quando ele foi julgado, tiveram que fazer um julgamento secreto e proibi-lo de falar, senão ele era capaz de convencer até os juizes (o julgamento era uma farsa, pois Danton estava condenado desde o início).
Quando o acusaram de ter se vendido para os nobres, por exemplo, Danton respondeu: ¨Vendido? Eu? Um homem como eu não tem preço!¨.
Adotei o nome Danton para homenagear esse homem interessantíssimo. No começo eu assinava Jean Danton, mas ficava estranho, especialmente na hora de assinar.
Na época eu me interessei pelo Barroco italiano e descobri um artista chamado Gian Lorenzo Bernini. Arquiteto, pintor, teatrólogo, escutor, Bernini foi para o barroco o que Leonardo Da Vinci foi para a Renascença.
Da junção dos dois nomes, um italino e outro francês, surgiu um nome único no mundo (pelo menos ainda não encontrei no google outra pessoa com esse nome) e foi com ele que fiquei conhecido. Mais tarde, quando tentei me livrar do pseudônimo, já era tarde: todo mundo me conhecia apenas como Gian Danton.

A maldição do Onde

 


Dizem que Vicente Mateus, o presidente do Corinthias, pediu para a secretária fazer uma convocação, marcando uma reunião para uma sexta-feira. A secretária perguntou:
- Sexta-feira se escreve com x ou com s?
E ele:
- Marca a reunião para a quinta.
Se fosse hoje, ele diria:
- Coloca onde.
E a frase ficaria algo como “A Diretoria do Corinthias marca uma reunião para a onde-feira”.
Parece piada, mas é exatamente o que estão fazendo com o “onde”. “Onde” é advérbio e se refere a lugar. Tem o sentido e “no lugar em que”. Mas essa palavra virou o coringa da língua portuguesa, sendo usado no lugar de qualquer palavra que a pessoa não se lembre no momento. Assim, ele tem substituído palavras tão díspares quanto “porém”, “pois”, “quando”, “assim”, “e”, “em que”, “no qual”,  “enquanto”, “todavia” e muitas outras.
Assim, temos frases como:
A teoria ONDE o filósofo argumenta...
O rapaz roubou o pão ONDE estava com fome.
Eu gosto de pizza, ONDE vou comer tudo.
A Educação a distância é um processo mediado de aprendizagem ONDE professores e alunos estão separados.
Compre o produto ONDE ganhe o cupom.
O atentado aconteceu ONDE o secretário estava de férias.

Se formos levar ao pé da letra, a interpretação dessas frases seria:

A teoria NO LUGAR EM QUE o filósofo argumenta...
O rapaz roubou o pão NO LUGAR EM QUE estava com fome.
Eu gosto de pizza, NO LUGAR EM QUE vou comer tudo.
A Educação a distância é um processo mediado de aprendizagem NO LUGAR EM QUE professores e alunos estão separados.
Compre o produto NO LUGAR EM QUE ganhe o cupom.
O atentado aconteceu NO LUGAR EM QUE o secretário estava de férias.

Na verdade, o que se queria dizer era:

A teoria NA QUAL o filósofo argumenta...
O rapaz roubou o pão, POIS estava com fome.
Eu gosto de pizza, PORTANTO vou comer tudo.
A Educação a distância é um processo mediado de aprendizagem NO QUAL professores e alunos estão separados.
Compre o produto E ganhe o cupom.
O acidente aconteceu ENQUANTO o secretário estava de férias.

Algumas vezes é quase impossível entender o que o autor queria dizer, como em:
Sempre com novas atração, ONDE nosso objetivo é sua opinião.


E o cúmulo quando encontrei o seguinte exemplo em um trabalho:
Faça sua pesquisa DONDE tire uma hipótese.

Além de ser gramaticalmente incorreto, o uso indevido do ONDE dificulta a compreensão do texto, prejudicando o processo de comunicação e ocasionando equívocos. Assim, da próxima vez em que for usar a palavra ONDE, pense bem e veja se é isso mesmo que você está querendo dizer. Na dúvida, troque o “onde” por “no lugar em que”. Se der certo, o onde está correto, caso não, coloque a palavra correta.

Milagre na cela 7

 


Prepare-se para se emocionar. Esse é o melhor conselho para quem for assistir Milagre na cela 7, o filme turco que está fazendo sucesso na Netflix.
A trama conta a história de um homem com deficiência intelectual que é injustamente acusado e preso pela morte de uma garota que escorregou de uma pedra e caiu no mar. Um homem, desertor do exército, viu o que aconteceu e a menina filha do acusado tenta a todo custo encontrá-lo para que ele testemunhe e livre seu pai da pena de morte.
É aquele tipo de filme que não só emociona, como revolta: o homem com nítida deficiência cerebral é torturado e obrigado a assinar, com a impressão digital, uma confissão. Depois, no julgamento, é considerado são e condenado à forca. Quando chega à prisão, é espancado pelos companheiros de cela.
Mas sua docilidade e inocência vão, aos poucos, convencendo todos de que ele seria incapaz de matar alguém – todos, menos o pai da garota morta e juiz, que o condena à forca mesmo com nítidos sinais de que o homem tem deficiência cognitiva.
O ator Aras Bulut Iynemli, que interpreta o protagonista, dá um verdadeiro show de interpretação, encarnando com perfeição o ingênuo Memo, que apesar de tudo ainda acha que pode voltar para casa e reencontrar a filha. Nisa Sofiya Aksongur, que interpreta a filha do protagonista também se destaca.
Milagre na cela 17 é uma refilmagem turca de um filme sul-coreano do mesmo nome. O filme também ganhou uma versão filipina e vai ser refilmado na Indonésia este ano.
Em tempo: esse é um filme indicado para os que pedem a volta do AI 5 e do regime militar. Na Turquia do filme a vontade de um militar de alta patente prevalece sobre a justiça e até sobre a humanidade, condenando um homem nitidamente inocente à pena de morte. Em regimes militares é assim: militares fazem o que querem, quando querem e como querem. Não é por acaso que, embora o filme seja originalmente sul-coreano, ele tem feito sucesso em países com histórico autoritário-militar, como a Turquia, a Indonésia e as Filipinas.